
Serafim Gonçalves, o último enforcado em Braga, que inspirou Camilo Castelo Branco
A 21 de outubro de 1842, o Ministério da Justiça consultava a Procuradoria-Geral da Coroa sobre a condenação de um réu a pena de morte. Tratava-se de Serafim José Gonçalves, o condenado que ficou para a história como o último enforcado em Braga1 e que veio a servir de inspiração ao romance de Camilo Castelo Branco, O Demónio do Ouro, publicado, em dois volumes, em 1873 e 1874.
A 2 de novembro de 1842, o Procurador-Geral da Coroa José de Cupertino de Aguiar Ottolini emitia o seu parecer. Nele, revela-nos que Serafim Gonçalves fora condenado a pena capital, nas duas instâncias, por três homicídios. A reincidência do réu no mesmo crime, que denotava a perversidade do seu carácter e a sua incapacidade de reabilitação, bem como a necessidade de exemplos fortes, levaram o Procurador-Geral da Coroa a não encontrar “nenhum justo fundamento para a minoração da pena julgada”.
Uns meses mais tarde, num ofício de 6 de abril de 1843, Ottolini participava ao Ministro da Justiça que a pena capital fora executada, na cidade de Braga, no dia 24 de março.
A documentação à guarda do Arquivo Histórico do Ministério Público revela-nos outro acontecimento associado a este, também relatado no romance de Camilo Castelo Branco. No percurso entre Viana do Minho e a cidade de Braga, o meirinho que conduzia os algozes resolveu extorquir de um marchante a quantia de doze mil réis, a título de custas pela execução que ia ter lugar. Num ofício de 5 de abril de 1843, o Procurador-Geral da Coroa dava conta ao Ministro da Justiça de que sobre este “escandaloso facto” já se mandara promover o competente processo e, três meses depois, a 4 de julho, informava que nele ficara pronunciado José Francisco Pereira, oficial da vara da Relação do Porto.
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1 Cf. AFONSO, António José Ferreira - Camilo e o último enforcado em Braga: o demónio do ouro. Póvoa do Lanhoso : A. J. F. Afonso, 2024. ISBN 978-989-33-6009-5.
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Pode aceder à transcrição do parecer aqui.